quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O Projeto.


INTRODUÇÃO
Essa é uma pesquisa sobre o processo de autoconstrução de habitação que visa adotar materiais e formas construtivas sustentáveis e adequados ao local e situação econômica existente. Dentro do contexto de déficit habitacional do nosso país, promover o conhecimento de novas possibilidades construtivas contribui para uma mudança gradual dessa situação. A pesquisa visa fazer um levantamento de diversas formas construtivas e materiais e, através de analise das várias possibilidades, elaborar um projeto habitacional dentro dos princípios estudados e construir, em regime de mutirão de autoconstrução, um protótipo em terreno cedido pela UNIFOR. A edificação servirá didaticamente, tanto durante sua construção como depois, para alunos de diversos cursos para divulgar as formas construtivas e o projeto em questão. Por último, pretende-se elaborar uma cartilha explicativa para auxiliar na construção desse protótipo em outros lugares por pessoas interessadas, podendo evoluir, através de uma política habitacional, para um programa de construção de habitação popular no país.

OBJETIVOS GERAIS DO SUBPROJETO:
Projetar e construir um protótipo de uma edificação residencial utilizando técnicas de autoconstrução e sistemas e componentes sustentáveis, adaptadas às condições socioeconômicas e ambientais do local.

JUSTIFICATIVA DA PESQUISA DO PROJETO (identificação do problema, fundamentação teórica e, se pertinente, enunciado das hipóteses):
O Brasil, como outros países, enfrenta diversos problemas relacionados ao déficit habitacional, falta de infraestrutura na geração e distribuição de energia, carência de saneamento básico, desperdício e dificuldade de acesso à água tratada, alta taxa de geração de lixo e inadequação na destinação deste, dificuldade de acesso à alimentação saudável (sem agrotóxicos), problemas relacionados à nutrição dos habitantes, entre outros. Vários programas e ações têm sido elaborados no sentido de aplacar tais problemas, porém muitos destes sem êxito.
Segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios, mais de 5,5 milhões de moradias precisam ser construídas em todo o país para acabar com o déficit habitacional. No estado do Ceará, eram necessárias 276.915 moradias (PNAD/IBGE, 2008).
De acordo com dados do Ministério das Cidades do início de 2011, o programa Minha Casa, Minha Vida, lançado em 2009 e ampliado em março de 2010, pretende construir ou reformar três milhões de moradias até 2014 para famílias com renda mensal de até dez salários mínimos. Esse programa terá um custo inviável a menos que sejam encontradas formas alternativas de viabilizar essas construções (Câmara dos Deputados, 2011).
No Brasil, métodos de construção tradicionais são alvos de normas e programas de desempenho que buscam incrementar a qualidade das construções e gerar bem-estar aos seus usuários. Estes métodos, no entanto, definem-se por sistemas construtivos e pelo uso de materiais que envolvem técnicas especializadas de construção, na maior parte das vezes inacessíveis ao futuro morador.  Com isto, este se torna dependente de mão-de-obra de construtores e fornecedores da indústria da construção para executar sua moradia.
Além disso, muitas das soluções construtivas são alheias às questões ambientais, gerando soluções que contribuem para um maior consumo energético, desconforto ambiental (térmico, acústico e lumínico) e desperdício de recursos, como água, materiais e resíduos que poderiam ser reaproveitados, reduzindo-se os custos de construção e operação da edificação. 
Em relação ao uso de energia, as edificações representam cerca de 42% do consumo de eletricidade no Brasil, sendo a participação do setor residencial responsável por 23% (PROCEL, 2012). Estes dados demonstram a importância do setor da construção civil em relação à eficiência energética, com impacto direto sobre a demanda energética no país. O crescimento na demanda energética leva a implantação de novas usinas de geração de energia, implicando em diversos problemas ambientais, independente da matriz energética. 
Quanto ao uso de água potável, no Brasil, o desperdício é o maior inimigo. A perda ocorre tanto na distribuição e abastecimento quanto no uso nas residências. O não uso de instalações hidro-sanitárias eficientes agrava o problema que poderia ser mitigado através de equipamentos com sistemas de redução no uso da água e com o reaproveitamento de águas cinzas e pluviais. Estas soluções ainda são ignoradas na maior parte das edificações brasileiras.
A destinação do esgoto nas habitações também é um problema. Segundo o sistema nacional de saneamento do Ministério das Cidades (2009), mais de 50% da população brasileira não tem acesso à rede de esgotos, levando essas famílias a recorrerem a alternativas que prejudicam a saúde humana e o meio ambiente. Considerando que o crescimento do acesso é muito lento, a previsão das autoridades é que serão necessários mais de vinte anos para garantir o acesso de toda a população a rede geral de esgotos e um grande investimento econômico. Além disso, quando a rede de saneamento municipal não está disponível é comum, mesmo nas grandes cidades, o despejo do esgoto em via pública ou soluções tradicionais de fossa séptica ou sumidouros que agravam a poluição do solo e do lençol freático.
O reaproveitamento de água nas edificações e a eficiência em seu uso reduz a capacidade necessária para tratamento dos resíduos e reduz o consumo de água potável. Sistemas alternativos de tratamento estão disponíveis para evitar a poluição do solo e lençol freático, contribuindo ainda para produção de alimentos in loco, através do reaproveitamento de resíduos orgânicos para adubação.
Quanto aos materiais de construção, os sistemas construtivos convencionais muitas vezes apresentam alta energia incorporada, com problemas ambientais associados à extração de matéria-prima, transporte e fabricação ou manufatura. O reuso de materiais e resíduos na construção de edificações pode aumentar a vida útil destes, reduzindo os impactos ambientais que seriam necessários para sua fabricação.
A qualidade na construção e a sua sustentabilidade são temas transversais a diversas outras questões que envolvem o bem-estar do ser humano e as preocupações ambientais com o planeta. Atender as necessidades básicas do ser humano no sentido de uma moradia digna, inserida em seu contexto cultural, socioeconômico e ambiental deve ser a meta principal da arquitetura e construção.
Sob este aspecto, a presente proposta de pesquisa visa à redução dos custos de construção com uso de materiais reaproveitados e de técnicas de autoconstrução que poderiam ainda promover a independência do usuário para construção de sua própria residência, porém sem prejudicar a qualidade ou desempenho definidos por normas e legislação específica.
Além disto, a implementação de princípios sustentáveis de projeto e construção promoveria a redução dos gastos no uso da edificação com energia e água, promovendo também o conforto ambiental, que  resultaria em um menor custo para o usuário e melhor qualidade de vida.

RELEVÂNCIA DO PROJETO (benefícios da pesquisa para a Ciência, Sociedade e Universidade)
O projeto de pesquisa vislumbra trazer diversos benefícios em suas diferentes etapas. Estas estão relacionadas às fases de projeto e construção do protótipo, como:
  • Elaboração de soluções construtivas considerando princípios da Arquitetura Bioclimática com a proposição de diretrizes projetuais adaptadas ao clima local, como base para uma arquitetura sustentável;
  • Desenvolvimento de técnicas de autoconstrução visando à qualidade e desempenho da construção com foco sobre o conforto ambiental e redução do impacto ambiental da edificação;
  • Criação de modelos de projeto e de métodos construtivos associados à componentes e soluções sustentáveis de geração de energia in loco, de reaproveitamento de água, de tratamento de esgoto, reaproveitamento de resíduos, entre outros, que possam ser replicados em parte e no todo em outras tipologias construtivas;
  • Proposição de estratégias construtivas de baixo custo a partir do uso de resíduos e materiais regionais visando mitigar problemas de déficit habitacional e de baixa qualidade das construções;
  • Avaliação da viabilidade técnica-construtiva e econômica de sistemas construtivos e sistemas sustentáveis no contexto local, e de seu desempenho através de simulação computacional e, quando edificado o protótipo, do monitoramento físico in loco.
Produção de literatura (artigos, manuais, livros, website...) no sentido de divulgação das soluções e técnicas construtivas desenvolvidas, bem como dos resultados obtidos em relação ao processo de projeto e de construção do protótipo, servindo de guia para o desenvolvimento de novos estudos e reprodução dos conceitos.

METODOLOGIA DO SUBPROJETO (descrição dos métodos e técnicas a serem adotadas e justificativas dos respectivos equipamentos/materiais indispensáveis):
O método da pesquisa está divido em duas fases:
1. Elaboração do projeto arquitetônico;
2. Construção de um protótipo de residência unifamiliar.
A primeira etapa será desenvolvida a partir de uma revisão bibliográfica sobre temas pertinentes ao tópico da pesquisa. Associado a este estudo, serão realizados estudos de caso que servirão de referência para elaboração do projeto.
A escolha dos materiais e sistemas construtivos terá como critério a disponibilidade e custo, sendo enfatizado o uso de resíduos que possam ser utilizados como material de construção. Esta escolha também dependerá de avaliações do desempenho e aplicabilidade destes através de seu estudo na literatura cientifica, mas também, no caso de uso de resíduos e materiais alternativos, de experimentos locais em que serão avaliadas formas de uso e construção com estes materiais.
Com a escolha do terreno e análise dos condicionantes locais (clima, legislação,...), será desenvolvido o projeto arquitetônico. Este será submetido à avaliações de desempenho ambiental utilizando ferramentas de simulação computacional visando a otimização de soluções passivas de projeto (que não consomem energia elétrica) e adequação do projeto à normas nacionais de desempenho e qualidade da edificação.
Em seguida, serão desenvolvidos os projetos complementares (elétrico/lógico, hidro-sanitário, de geração de energia, de reaproveitamento de água...) e compatibilização com o projeto arquitetônico.
O inicio da segunda etapa se dará com a preparação do terreno e coleta de materiais para construção. A proposta é que o processo construtivo seja participativo, envolvendo professores e alunos de diversos cursos da universidade, adotando-se técnicas de autoconstrução. Este processo será desenvolvido com a coordenação da equipe do projeto de pesquisa, de forma a promover a divulgação dos conceitos relativos à sustentabilidade.
Consequente à construção, a edificação ficará a disposição para visitas e estudos futuros que podem envolver a avaliação de seu desempenho e monitoramento de aspectos ambientais. Por fim, deverão ser produzidos materiais de cunho cientifico e informativo sobre todo o processo (artigos, manuais, websites...).

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